memories

“O que você está fazendo aqui?” A garota não se moveu pra pronunciar essas palavras. Continuou com a cabeça entre os dois joelhos dobrados.
“Eu quero saber se está tudo bem. Você saiu correndo, do nada” O garoto se aproximou, e sentou-se junto a ela, dobrando seus joelhos na mesma posição.
“Eu gostaria de ficar sozinha” Ela tentara deixar sua voz no melhor tom possível, mas a mágoa estava aparente.
“Sozinha em que sentido?” 
“Sozinha, eu e eu mesma”
“Mas você esqueceu que eu faço parte de você?” O garoto falava calmamente, encarando o céu.
“Hoje não”
“Hoje sim, e sempre - a garota o encarou irritada - Qual é? Não faz esse bico”
“Não estou em condições de discutir com você”
“Então não discuta”
O garoto laçou-a com seus braços. Ela não resistiu.
“Porque você tem que ser sempre um idiota?”
“Porque foi o único jeito que eu achei de ficar perto de você”
“Idiota”
“Não sei o que está acontecendo.”
“Você. É isso que está acontecendo”
O garoto permaneceu em silêncio.
“Olha - a garota prosseguiu - Eu te amo. Sempre te amei. Mas você já se foi há muito tempo. Eu preciso deixar que você vá. E você precisa me deixar ir. A vida é uma merda sem você. Mas ela ainda não acabou.”
O garoto a encarou, pensativo.
“Não quero que essas palavras te machuquem. Mas você precisa ir”.
“Sabe, eu achei que você nunca me diria essas palavras. E finalmente, posso ouvi-las”
“Como assim?”
“Você que tem me prendido aqui. A minha memória. Tentei tantas vezes mostrar que você não precisava de mim pra ser feliz, mas você sempre foi tão teimosa. E agora vejo que você abriu seus olhos e eu posso, finalmente, te deixar em paz. Seja feliz. Encontre um cara que te faça sorrir nos dias de chuva. Que te abraçe quando começar a nevar. Que te jogue na piscina nos dias de calor. Não ME procure em outros caras. Procure você mesma”
“Você foi o único que me fez feliz” A garota tentava controlar as lágrimas, em vão.
“Eu fui. Mas existem tantas pessoas por aí que te farão mais feliz. Mas você precisa entender que eu sempre estarei aqui ao seu lado.”
A campanhia tocou. A garota tentou ingorar.
“Mas eu não vou conseguir”
“Vai sim. Aliás, o vizinho que gosta de você está à sua porta, querendo te convidar pra jantar. Aceite o pedido dele. Fique linda e saia com esse cara. Ele será bom pra você”
“Eu te amo”
“Eu também, você nem sabe quanto” E então o garoto beijou o topo de sua cabeça e, quando a garota abriu seus olhos, ele já tinha ido.
“Desculpe por te prender tanto a mim.” Ela sussurrou ao vento, e desceu em busca de seu vizinho, deixando as memórias que tanto a machucaram pra trás. Ele era passado … certo?